domingo, 7 de setembro de 2008

O que é o poema ?



De que falarei senão do impossível?

Um poema é meramente um recôndito impossível. Uma luz indefinível tentando romper com o véu da realidade...

Um poema não é mais que um soprovivo em uma tardetriste.

Exatamente assim. "Soprovivo", "tardetriste"... união impossível.

De que falo senão da rocha ensimesmada em um mundo de nostalgia e ilusão? O que é o poeta senão o passante perdido nesse mundo de grito e silêncio?

Nele o poeta tentará dormir, mas o sono também será de uma luz e de um alívio incansável. Nele o poeta tentará dizer palavras compreensíveis, mas compreenderá apenas a tentativa fracassada de romper em versos o que sua natureza encobre. Nele o poeta se reconhecerá no vento que banha o rio transportando gotas de água e luz.

O que é a poesia senão todo esse desfecho desvairado em que o poeta está perdido? O que são seus versos senão o rompante augusto colocando em opostos lados ilusão e realidade?

Direi então sem mencionar no sopro o intemerato grito. O poema apenas é meramente o sonho perdido no recôndito insondável de um ser que sente.

sábado, 17 de maio de 2008

O que é ser poeta ?



Todo poeta sabe pouco. Todo saber pouco será sempre uma conquista para os menos capazes. O poeta não é maior que sua poesia. Nunca será aquilo que pode ser, nem parecerá ser o que não pode.
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Todo poeta sonha. Todos os sonhos são feitos de pequenas partes que se confundem. Todo poeta é confuso.
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Suas poesias são como o mar. Primeiro revela o inaudito, depois o indecifrável. Todo poeta é uma interrogação numa folha em branco.
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Todo peta fala pouco. Todas as palavras que eles dizem são como brisas errantes numa tarde de sonho e luz.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Elly Ramos




Eu dizia (num sonho que tive) ser impossível falar sobre teus versos, palavras ainda não ditas semelhantes a folhas fugazes numa tarde de sonho e luz.

Eu dizia que quereria conter a essência das cores perdidas dos campos, para que com tua incerteza, de poeta ainda que certa, divagar como sonhos perdidos.

Eu dizia estar preso nos estilhaços das águas límpidas e você era o todo nessa transitoriedade entre o real e o imaginado.

Eu dizia que você era uma flor que de mistério avança como a brisa errante e disforme. Eu falava que na brisa errante e disforme um não sei quê de beleza explicava as entrelinhas de poesias ainda não escritas.

Eu ponderava que nas poesias ainda não escritas, no íntimo de cada verso, tu pairavas no infinito.

domingo, 20 de abril de 2008

Impossível



Um dia o sol para a lua sorriu.
Um dia a lua para o sol cantou
e então a rosa do campo consentiu
um beijo tímido entre os dois.

Um dia o longínquo brilho
um beijo da noite roubou.
E a noite gostando do beijo
atirou pedras na distância que os separavam.

Um dia o Mar para a Estrela acenou.
Um dia a Estrela pelo Mar se encantou
e se amaram sem medo eternamente
pois o que parecia impossível se dissipou.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Contradições da existência



No seu "Livro do Desassossego" o grande Fernando Pessoa dizia que a decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar pararia. Isso é perfeitamente evidente e provável. Contudo,"o coração tem razões que a própria razão desconhece". E isso é também provável e absoluto.
Pretendo que a poesia tenha o poder de em meio ao sofrimento e ao desamparo acender uma chama que ameniza e dá perspectiva aos humanos.
Se não existisse a poesia tudo seria um caos sem a perspectiva necessária.


É como diz a poesia:

Somos um pouco de sonho.
Um sopro de abandono
um grito
um nada.


Somos um punhado de loucura
na voz portentosa do vento...
um lamento.


Uma queixa despercebida
perdida nas asas
do tempo.


Um surto de compaixão
um pouco do ilógico perdido
então,


Não percebemos no tempo
Que somos um agora perdido...
Um pouco de luz no infinito
Vagando num mar sem remo.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Mar Bravio




Aonde vais, pálida inocente, absorta sob o ar que fulgua longe da terra primeira que sustenta teu brilho docemente?
Onde jaz agora que o sol indeciso se esconde por traz das montanhas?
Para que bosque o sonho te guia quando o canto da flor é errante e vaga indecisa, medrosa?
_ Para qualquer paisagem formosa onde a dor se cala em desmaios, pois o primeiro passo das ondas no mar bravio, é incerto.
Para qualquer terra tão longe. Para qualquer porto vazio. Para qualquer serra distante, perdida.
Nesse mar bravio que me guia, para longe da terra de meus passos sentidos, onde o canto dos pássaros em revoada revela um não sei quê de soberano, sinto-me mais próxima daquilo que palavras incertas não dizem. Eu e o mar somos partes de um todo que se confundem.

Canção à Bahia



"Minha terra tem palmeiras"
minha terra é de amores
minha terra abriga o mar
como mãe a embalar
imensidade de flores.


Minha terra tem encantos
e formosura de cores
tem história luzidia
e imensidade de flores.


Minha terra chora e canta
para seus filhos em louvores.
Minha terra é meu paraíso
de imensidade de flores.


"Minha terra tem palmeiras"
Minha terra é de amores.
Minha terra é soberana
com sua imensidade de flores.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Incertezas





Talvez não seja certo dizer que a vida não tem sentido e que é apenas inutilidade tudo aquilo que fazemos. Talvez não estejamos corretos em afirmar assim como Rousseau que o homem nasce bom, que a sociedade o corrompe, que é mais fácil conhecer a extensão do universo do que penetrar em si mesmo para estudar o homem e conhecer sua natureza, seus deveres e seu fim. Talvez não seja certo afirmar assim como Nietzsche que Deus está morto e que a teoria do ''livre-arbítrio'' é anti-religiosa. Talvez não seja correto afirmar assim como Schopenhauer que o cristianismo é uma profunda filosofia do pessimismo. Talvez não seja correto ter certeza alguma. As vezes a incerteza é a única certeza.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Canto I




Ó pobre dobre
Que encobre
O triste norte.

O triste norte
Sem suporte
Do amor vazio.

Vaga em lágrimas
E não mais fala.

Que a vida é bela
Sem ter com ela
Junto à cela.


Canto II

Lanças brancas
Brancas lanças.

Passos firmes
Firmes passos.

Olhares duros
E tenebrosos.

Das mortas esperanças
Dos guerreiros amortalhados.