quinta-feira, 28 de junho de 2012

Carta a Valdeck Almeida de Jesus
















Meu caro escritor, jornalista, poeta e ativista Valdeck! Bem que eu poderia começar esta carta falando de tuas louváveis qualidades literárias, mas vou me segurar um pouco. Não quero que a crítica se refira a mim como um de teus amigos íntimos e, por ventura, desqualifique estes meus breves raciocínios. Se bem da verdade, eu não me importo muito com palavras alheias que por sua vez podem desqualificar uma inclinação para a produção literária que julgo ter quando o ponto de minha observação se localiza nesse nosso imenso estado baiano. Confesso. Sou um apreciador dos escritores baianos. Mas isso não torna minhas observações tão sem crédito assim. Por ventura nossa crítica contemporânea não carrega uma carga de inclinação subjetiva e partidária, às vezes até emotiva?
            Pois bem. Deixemos de lado o que podem dizer e nos apeguemos ao que deve ser dito. E o que deve ser dito? Quais as palavras mais acertadas para falar de um escritor que não para sequer um minuto para dizer: pronto, vou descansar um pouco. Vou tirar férias da literatura. (risos).
            Obviamente este não é o teu caso. Você é uma das pessoas mais ativas que conheço, isso para ficarmos apenas no campo da literatura (risos).
            Você é uma interrogação muito boa de ser descoberta. Quando pensamos que não resta mais nada para fazer vem você e nos mostra que inúmeras são as possibilidades. Estou falando isso pelo fato de recentemente eu ter descoberto algo que tu fazes e que julgo importante para a nossa literatura brasileira, de uma forma geral. Refiro-me a tua produção de literatura de cordel. Esta é uma das mais relevantes literaturas das quais temos conhecimento.
            Faz alguns anos que estudo literatura de cordel e minha monografia apresentada na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) foi exatamente sobre esta literatura e teve o seguinte título “Literatura popular: da historiografia literária ao ensino em escolas da roça” (2011) monografia que foi o resultado de uma pesquisa de mais de um ano vinculada a FAPESB e ao núcleo de bolsas de iniciação científica da UNEB. Recentemente produzi outra pesquisa ainda mais intensa que resultou num livro chamado “Literatura de cordel: uma questão da historiografia literária brasileira”.
            Agora você deve estar entendendo melhor o que falei no primeiro parágrafo deste texto quando me referi a minhas prováveis inclinações para analisar certos aspectos literários. É que me considero um amante da literatura de cordel, e vem você e joga três de suas obras de cordel nas minhas mãos. (risos).
            O que devo fazer ao considerar-me um amante e pesquisador desta literatura tendo em mãos obras tão bem escritas de um escritor baiano?
            Recebi pelos correios o teu envelope e confesso que o abri com muita pressa. Nele haviam três cordéis: “Picão encantado” que eu bem poderia classificá-lo como gracejo se eu fosse designado a encará-lo de acordo com uma classificação temática, o segundo “Mulher-Ketchup” tematicamente mais voltado para o jornalismo e o terceiro cordel “Jorge Amado (1912 – 2012) cem anos do nascimento” que é um cordel de celebração em homenagem ao centenário deste nosso escritor tão bem conhecido mundialmente e tão bem valorizado sobretudo por nós baianos e brasileiros.
              São três cordéis, a meu ver, muito bem escritos e podem ser incluídos entre os melhores que li neste primeiro semestre de 2012, e olhe que não leio pouco.
            No cordel “Picão encantado” você começa por um ponto muito relevante que é a mistura de suspense e mistério que faz referência ao órgão sexual masculino:

Vou contar a história
De um grande personagem
Que vive todo encolhido
Com medo de sua imagem
Ser espalhada nas ruas
Desta e de outras paragens (p.01).

            Estas colocações causam certo impacto no leitor e acaba por prendê-lo na escrita já provocando os primeiros impulsos de comicidade. É uma ótima introdução para cordéis que buscam explorar esta característica.
            No outro cordel “Mulher-ketchup” você explora um acontecimento muito retratado nos jornais regionais e nacional referente à cidade de Pindobaçu, interior baiano. Os seguintes versos me chamaram a atenção:

Tudo foi para o jornal
Onde tudo foi parar
O que era um segredo
Divulgado agora está
E o crime encomendado
Virou piada de matar (p.01).

            Você faz uma boa junção entre jornalismo e gracejo e a meu ver o tom jornalístico prevalece em relação ao gracejo, embora o caso que é verídico já seja um gracejo por si próprio.
            No outro cordel “Jorge Amado (1912 – 2012) cem anos do nascimento” que no meu ponto de vista é o mais bem escrito você faz uma homenagem muito rica ao grande Jorge Amado. É ideal para aqueles que buscam conhecer este escritor, pois você com muito critério aborda diversos elementos da vida e da obra do referido escritor:

Muito amado o nosso Jorge
Por baianos e estrangeiros
Escritor e jornalista
O maior e o primeiro
Natural de Itabuna
Este grande brasileiro (p.01).
(...)
Fez carreira na política
Foi deputado federal
Mas o brilho da criatura
Foi além do que é normal
Pois os livros o levaram
A brilhar mais que o astral (p.03).

            Todos os folhetos foram escritos em forma de sextilhas seguindo o esquema de rimas A B C B D B em que versos livres e rimas se entrecruzam. Esta é a construção mais explorada por escritores cordelistas atuais.
            Espero conhecer mais sobre tua obra e agradeço muito pela cordialidade de ter me enviado teus cordéis. Teu primeiro livro “Memorial do inferno: a saga da família Almeida no jardim do Éden” que também tive o prazer de ler é recomendável para aqueles que precisam conhecer a trajetória de alguém que com muito esforço conseguiu vencer as adversidades e conquistar inúmeras coisas.


Se de mim precisares da algo ficarei agradecido em te servir

Jacobina, 27 de junho de 2012

Atenciosamente
Leon Cardoso da Silva

                  

sábado, 9 de junho de 2012

Novo livro: MONÓLOGOS



















POEMAS DO LIVRO

A VIDA

A vida
É ávida
E sentida.

A vida
Nem sempre
É comedida.

A vida
Nem sempre
É compreendida.

A vida
Ávida
E sentida
Só alcança sua plenitude
Quando conhece
Que a maior virtude
É a lida.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

EIS












Eis segredos
Que ficaram perdidos,
Pois ninguém quis contar.

Eis palavras
Que ficaram mudas,
Pois ninguém quis falar.

Eis protestos
Que ficaram incertos
À beira do mar.

Eis poemas
Com seus emblemas
Que tudo diz
Mesmo sem falar.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O CIGARRO















Acendi um cigarro.
Pronto.
Falei.

Até pensei
Em destruí-lo
Aos poucos,
Mas o desgraçado
Foi mais forte que eu
E deu-me tonturas
Insuportáveis.

Sua fumaça
Abafou meus pulmões,
Destruiu minha célula preferida,
Arranhou minhas cordas vocais
E não satisfeito
Causou ardência em meu peito.

E foi
Por causa desse desastre
Inevitavelmente
Malogrado
Que então pensei:

Como não posso vencê-lo
Na briga
Deixo-o para os desgraçados
Que na guerra
Estão mais que acostumados
A perder a luta.

FOME



Fome, fome
Mais que nome
Fácil e pesaroso.

Fome, fome
Tem quem não come
Não por falta de apetite
Nem por falta de nome.

Fome, fome
Mais que nome.
O miserável
Tem fome
E o corrupto
Filho de uma puta
Tem seu estômago cheio
E não sabe do sentido exato
Da fome
Nem quer saber
Deste nome.