quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

MINICONTO

(Autor: Leon Cardoso da Silva)

O MAR

Santiago nunca tinha visto o mar. Por isso, ficava longas horas imaginando como seria. Qual o gosto da água, se os peixes pulavam para fora girando no ar antes de retornarem para as águas como seu primo mais velho havia lhe dito. Certo dia, o pai de Santiago levou-lhe para ver o mar. Ele (o mar) estava lhe esperando por trás das dunas imensas e infindáveis. Quando Santiago avistou o mar tomou um susto:

– Pai! – gritou atônito – onde acaba o mar? 

POEMAS DIVERSOS


(Autor: Leon Cardoso da Silva)


O MUNDO

Sempre em transformação
O mundo.
Sempre plural
Com todas as divergências
Inevitáveis.

Sempre acolhedor?
Nem tanto.
O mundo é sempre uma selva
A descobrir-se.



POEMA GINASIAL

Eu era tão pequenino
Quando comecei a estudar:

“Quem descobriu o Brasil: – Pedro Álvares Cabral”.
“Cinco vezes dois: – Dez”.
“Qual a capital do Brasil: – Brasília”.

E eu me perguntava:
Quem vai me ensinar a ser gente?



MARTE

Dizem que é preciso construir uma torre
Tão grande que chegue a Marte.

Dizem que é preciso construir nesta torre
Um elevador que alcance a velocidade da luz.

Dizem que é preciso fugirmos para outro lugar
Por que a terra está condenada.

Os homens, estes desafortunados da prepotência
Estão afogados nos seus próprios erros
E também querem afogar o universo.

Foge Marte para bem longe.



LINGUAGEM

Nem é preciso falar
Para dizer tudo.
Para isso basta o gesto
Que dialoga em silêncio.

Mário! Seja esperto.
Quando há silêncio de palavras
Assim mesmo pode haver
Grande barulho na alma.



FERTILIZAÇÕES

O fogo fertiliza as imaginações
E a água fertiliza o solo.

As queixas fertilizam as desordens
E as crenças fertilizam
A espera.

A filosofia fertiliza as indagações
E a poesia
Esta deusa insondável da plenitude
Deveria fertilizar a calma.



A VELOCIDADE DO TEMPO

Rápido que o tempo está passando
E a hora é certa.
Não dá mais tempo
De ficar esperando
O tempo passar lento.

Vamos rápido
Que o tempo
Está correndo,
Correndo muito mais rápido
Que outrora.

Vamos apressadamente
Para não nos atrasarmos
Para o fim das coisas.

Rápido!
Rápido!
Rápido!

Vamos apressadamente,
Pois não há antes
Nem pós
Só o tempo
Veloz.

DEFINIÇÃO DE POESIA

Poesia é deusa uniforme
Que embriaga os seres.
É lâmpada translúcida e compreendida
Que ilumina a noite.

Poesia é um porto com barcos.
É palavra carregada ou não de protestos.
É linguagem verbal e não-verbal.

Poesia é barco que ficou à deriva,
Pois perdeu de propósito o leme.



O PIRILAMPO E O SAPO-BOI

O pirilampo
Riu do sapo-boi
Porque este não tinha
Asas e bicos.

O sapo-boi
Riu do pirilampo
Porque este
Encadeava-se
Com sua própria luz.

E quando o pirilampo
Fez um gracejo
Envolvendo a língua
Do sapo-boi
Este acabou com a zombaria,
Pois num piscar de olhos,
Dramaticamente,
Engoliu o pirilampo.



VANGUARDA

Vanguarda,
Vanguarda,
Vanguarde
A guarda
Que este poema
Não se consagra,
Mas de repente
Pode tornar-se
Pós-moderno.

Vanguarda,
Vanguarda,
Vanguarde
A guarda
De quem faz versos
Com lirismos
Nem sempre comedidos
Em pleno século XXI.



ESCADA ROLANTE

A escada rolante
No seu sobe e desce
Anda mais que o viajante
Que usa suas pernas

Ao invés de seus pensamentos.




REFÉNS

Reféns da espera
Agoniamo-nos
À mercê
Da próxima
Promessa.



TU NÃO SABIAS?

Pronto, vamos morrer.
Tu não sabias?
Tu não sabias que chegará uma hora
Em que esta carne e este esqueleto
Que te mantém em pé
Extinguir-se-ão?

Tu não sabias?

Tu não sabias que os pensamentos,
Estes materialistas disfarçados
Em essência pura, tênue e sombria
Cessarão de repente?

Tu não sabias?

Tu não sabias que fomos feitos
Para lembrarmos e enterrarmos os mortos?
Para velarmos suas desconformidades?

Tu não sabias de nada disso?
Pois então te digo.
Antes saber de tudo isso agora
Do que na exata hora da morte.



COM A MORTE

Com a morte? Não, nem com a morte. Quem vive
como eu não morre: acaba, murcha, desvegeta-se.
 (Fernando Pessoa em Livro do desassossego)


Com a morte?
Ah, com a morte fica-se
Como um não ser visto,
A casa fica-se como onde não mais se avista
O ser morto,
As roupas ficam-se indisfarçadamente
Sem ele estar ali.

Antes era o nada,
Em vida foi o tudo,
Depois da vida
Retornou-se ao nada.

Tudo é uma questão de negação,
Um desequilíbrio premeditado
Em face da tragédia louca e certa. 

Com a morte?
Ah, com a morte celebramos o casamento
Da noite com o Caos.



O AMOR

O amor não morre,
Desmaia,
Entra em coma.

O amor não passa,
Esconde-se,
Precipita-se,
Se esquiva.

O amor não nasce,
Descobre-se.

Em estado de amor
O ser não se constrói,
Não se cria,
Apenas vive a regá-lo
Numa constância
De ação
E de precipitação.



ÁGUA

Água palavra
Palavra dura
Água escura
Escura e impura,
Água que martela
Martela a espessura
Da palavra água
Na matéria dura.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O QUE É A LINGUAGEM?

AUTOR: Leon Cardoso da Silva


(Aqui pretendo analisar o conceito de linguagem e proponho o desenvolvimento de uma linguística que pode muito facilmente ser denominada de "linguística transcendental")


            Dúvidas não há que adquirimos a lingua(gem). Ela não parece ser meramente um arcabouço de estruturas diversas cognitivas ou inatas. É, antes, um meio complexo e diverso que utilizamos para estabelecermos a comunicação entre as pessoas dotadas de faculdades linguísticas, sem a qual viveríamos um caos incontrolável. Restritamente, isto quer dizer que nosso pensamento só pode ser analisado pura e simplesmente em termos linguísticos, isto é, em termos de linguagem. Não quero com isso dizer que superamos, definitivamente, filosofias como as de Descartes e Hume que buscavam na intimidade vivencial a “verdade das ideias”. A ciência parece ter dominado o campo da epistemologia clássica e a metafísica foi jogada para um lado, posta a deriva embora frequentemente recorrente por estudiosos de diversos campos de estudo. Acontece que a linguagem – no sentido mais amplo do termo – é o meio que principia todo o pensamento. Isto quer dizer que o ser dotado de linguagem só se torna possível no mundo pela afirmação de si próprio e do outro. Um estar-no-mundo baseado pura e simplesmente na linguagem, sem a qual não haveria a organização do pensamento.
            Assim, viemos ao mundo dotados de certas estruturas racionais. Isso não quer dizer que estas estruturas bastam para compreendermos toda a complexidade do sujeito. Precisamos de conteúdos para ativar estas estruturas, sem os quais não poderíamos compreender este processo.
            Nesse sentido, a experiência da imagem é anterior a experiência da palavra, e esta é anterior ao pensamento. Viemos ao mundo com faculdades sensoriais que nos permitem ver o sol, ouvir sons, sentir uma brisa, o cheiro do mar, o gosto, a cor, a dimensão... “A imagem é um modo da presença que tende a supri o contacto direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. O ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e essa aparência”. (BOSI, 1977).
            Há uma relação entre a realidade das coisas e a forma com que nos comportamos diante delas. Nisso se opera uma relação de completude, pois com nossa percepção sensorial adquirimos conteúdos, com nossa estrutura mental o organizamos, sem esta organização não poderíamos chegar ao conhecimento. Completude no sentido de que o sujeito necessita de certos elementos sensíveis e abstratos, sem os quais não compreenderia a si próprio, nem o mundo no qual está inserido.
            Duas características, portanto, parecem inerentes ao ser humano: uma puramente pensada – racional. Outra simplesmente sentida – sensorial. É pela linguagem que estas duas tornam-se possibilidades inerentes e primordiais.
            Assim, é inevitável utilizarmos elementos racionais e empíricos em nosso processo de comunicação. Neste sentido, torna-se necessário a análise de enunciados que apresentam elementos destes dois campos de estudo. Este é o principal objetivo deste ensaio, realizar uma síntese entre nossa razão e nossa experiência – ou percepção sensorial – trazendo diversos elementos de teorias linguísticas.
            Parece que a linguagem é matéria primordial do pensamento. Sem ela não haveria a organização de uma sociedade. Estou me referindo especificamente à linguagem verbal, visto que o conceito de linguagem vai além do elemento verbal no sentido de haver uma linguagem não verbal que também pode facilmente transmitir algum tipo de informação entre os falantes ou aqueles dotados de uma estrutura mental que possibilite o entendimento. Neste sentido, a linguagem – no sentido mais amplo do termo – remete, por conseguinte, a uma realidade material.
            Ainda que se admita a existência de uma linguagem não verbal, ainda assim não poderíamos tirar dela o elemento racional, sem o qual não seria possível estabelecermos o processo comunicativo. Ao fazermos o gesto de balançar negativamente – ou afirmativamente – a cabeça precisaríamos compreender que nele, no gesto, está implícito o elemento empírico, mas também uma estrutura racional sem a qual não seria possível nos compreendermos, nem estabelecermos a existência de todo um processo de comunicação.
            Nestes termos, linguística transcendental seria a realização da síntese entre duas faculdades inerentes ao ser humano: a faculdade racional que o permite ter certas estruturas mentais, e a faculdade das impressões sensíveis que o permite adquirir certos conteúdos. Tudo isso no que se refere à análise e exposição linguística. Se por um lado dispomos de termos lexicais que se referem apenas a elementos que só podem ser compreendidos por um processo ontológico ou cognitivo, por outro, também dispomos – na sua maioria – de termos lexicais oriundos de nossas impressões sensíveis. Portanto, enunciados que apresentam o cruzamento de elementos destas duas grandezas devem ser submetidos a uma análise mais precisa.

EDUCAÇÃO OU ESCOLARIZAÇÃO?



Autor: Leon Cardoso da Silva

(Capítulo de um livro em construção)

   É bastante comum confundir-se estes dois termos. Educação é o ato de educar ou de educar-se, neste caso, presumindo-se a ideia de que é este um ato em que não se faz obrigatória a presença de outra pessoa, mesmo que o outro indivíduo possua um conjunto maior de informações ou conhecimentos. Neste sentido, educação pode ocorrer tanto na escola, quanto no contexto familiar e individual de cada pessoa. Escolarização é o processo de aplicação de um currículo cujo objetivo é fazer com que os estudantes absorvam determinados conteúdos ou “cânones” que por ventura possam auxiliá-los no processo de auto-afirmação no mundo e reconhecido como membro de uma comunidade.
A busca pela definição do conceito de educação é bastante antiga. Ainda nos tempos dos filósofos Sócrates e Platão essa questão foi tão recorrente que se tornou método até mesmo da filosofia. Isto é, se analisarmos a conduta de Sócrates, por exemplo, perceberemos que a busca pela instrução, pelo diálogo e pela construção do conhecimento era o ponto de partida de sua filosofia - ou de seu método filosófico. Como não havia escolas, o que se conhecia por educação envolvia uma variedade de conceitos pertencentes ao cotidiano de praticamente todas as pessoas. Neste sentido, o método socrático consistia em fazer com que a pessoa refletisse consigo mesma, pois, nesta perspectiva, o verdadeiro conhecimento vem de dentro para fora, quer dizer, a própria pessoa pode suprir em si a necessidade de educar-se, sem a presença do outro.
Isso é bastante simples de ser entendido. Em um tempo onde não existiam escolas, como conhecemos, as pessoas eram responsáveis tanto pelas suas próprias instruções, quanto pelas instruções de seus dependentes. Assim, surgiram os “preceptores”: pessoas (ou professores) cujo objetivo era instruir outras pessoas, geralmente os filhos dos mais ricos, pois podiam pagar pelos serviços do preceptor.
Podemos dizer que a primeira escola surgiu quando Platão, por volta de 378 a. C., fundou um grupo de estudos[1], principalmente, sobre filosofia e matemática. Os encontros ocorriam num jardim chamado Academo, na cidade grega de Atenas - por isso o nome “academia”. Se hoje fossemos classificar um destes encontros de Platão, classificaríamos tão simplesmente como algo análogo a uma “aula de campo”.
Isso tudo fica ainda mais claro quando lembramo-nos do fato de que Platão foi um dos discípulos de Sócrates. Quer dizer que a estrutura de sua academia tinha uma base centrada na reflexão e no diálogo, tão elucidados por seu mestre. Portanto, os encontros da academia baseavam-se em debates, questionamentos e discursos.
A partir desta observação, podemos entender que a ideia de educação parecia ser, para Sócrates e Platão, não uma imposição exterior, isto é, externa e independente do ser, mas uma condução para esse esclarecimento na exata medida em que educar não consiste em imprimir ideias externas na mente do outro. A verdadeira educação, pois, nada mais é que dar meios ao outro para que este, numa perspectiva real, chegue, por fim, a verdadeira ideia desse real. Nesse sentido, podemos dizer que educar não é o que vulgarmente se pensa, como diria Platão. Para ele não é “introduzir ciência numa alma” como “se introduzisse a vista em olhos cegos”.
Com o passar do tempo, surgiram escolas como conhecemos atualmente, com currículos, estudantes e professores em sala de aula. Isso ocorreu a partir do século XII na Europa. Antes disso, encontros que ocorriam, com estes objetivos, eram realizados em locais abertos. 
            Com o surgimento de “escolas”, surge, também, o conceito de “escolarização”. Haveria, portanto, uma delimitação entre estes termos que, visto em conjunto, parece unificar suas singularidades e aproximações. Acontece que por escolarização entendemos ser o conjunto de estratégias e conteúdos bastante diversificados utilizados pelas escolas com o objetivo de formar o indivíduo para o convivo social ou em grupo. No processo de escolarização as pessoas podem adquirir conhecimentos, conhecimentos estes que em conjunto podem auxiliá-las na vida prática e social.
            A exemplo disso, podemos observar que no processo escolar – portanto, no processo de escolarização – conteúdos intelectuais e habilidades são passadas para as crianças, jovens e adultos sempre com o objetivo desenvolver o raciocínio, além de provocar a reflexão sobre diferentes problemas, auxiliar no desenvolvimento intelectual e contribuir decisivamente para a formação de pessoas conscientes de seu papel social com capacidades de gerar transformações positivas na sociedade.
            Em nossa contemporaneidade, parece haver uma ressignificação do que se entendia por “educação”. Entretanto, esta ressignificação não rompe com o conceito comum ao afirmar que a educação não é simplesmente o conjunto de saberes, mas de saberes para a vida moral e íntima, não somente para a vida coletiva e externa. De um lado, a educação visa inserir o homem na sociedade marcada pela necessidade de valores significativos. Por outro lado, a escolarização o qualifica, na medida em que o ensina a dominar certos conteúdos intelectuais para viver e interferir na sociedade.
            O que dizer, por exemplo, de uma pessoa que nunca frequentou escola? Diríamos se tratar de uma pessoa sem educação, sem instrução, sem as duas coisas ou com as duas coisas?               
Na verdade, educação independe de um ambiente escolar. Assim, a pessoa pode ser muito educada sem ter frequentado escola. Tem-se um ambiente educacional, por exemplo, em grupos de convivência promovidos por ONGs ou programas sócio-assistenciais, em escolinhas de esportes como futebol, natação e outros. Mas, é no seio familiar que esta educação tem sua principal razão de ser[2].
            Parece correto, portanto, afirmarmos que a educação precede a escolarização e esta última é uma complementação, mas não uma substituição da primeira. Entretanto, para que haja uma boa escolarização é necessário ter havido antes uma boa educação. Se analisarmos a sociedade atual, não será difícil percebermos que diversas são as pessoas colocadas à margem da sociedade. São resultados de um processo histórico marcado[3] pelo fracasso tanto no processo de educação, quanto no de escolarização.


[1] É registrado que Aristóteles era um dos maiores frequentadores deste grupo de estudos, sendo também o aluno mais promissor de Platão.
[2] Esta observação será retomada no próximo tópico.
[3] Marcado pela educação e escolarização, não que estas duas sejam as únicas causas dessa marginalização.

O FRACASSO DA ESCOLA



Autor: Leon Cardoso da Silva


(Fragmento de um livro em construção)



        Quando o aluno conclui o ensino médio, ele sai sem um norte. Talvez com a ideia de ser médico, de ser engenheiro, de ser advogado, pois seu pai acha interessante e disse que pode dar um bom dinheiro. Ou até mesmo de ser astronauta, mesmo não tendo sequer uma aula sobre os planetas e as viagens espaciais. Ter um sonho não necessariamente significa ter um norte. Apenas um objetivo imaginado, pois quando o aluno, agora ex-aluno, vai para a realidade vê que a diferença social não o permite entrar numa faculdade de medicina, ou de veterinária, ou de engenharia, ou de direito, etc. Agora formado, com o ensino básico concluído o aluno pergunta-se: para onde ir? Trabalhar no quê? Agora de maior precisa prover sua existência. A sociedade exige o domínio de certos conhecimentos que não fora aprendido durante os 12 ou 13 anos que passou na escola. Mais uma vez pergunta-se: o que aprendi durante os estudos... tantas aulas, tantas atividades, provas, notas, faltas, presentes, atestados, espertezas, trapaças... para onde ir?
Na verdade, grosso modo, quando o aluno está em qualquer dos ciclos de ensino ele é estudante, quando conclui o ensino básico deixa de pertencer á classe dos estudantes para pertencer á classe dos desempregados. Em certo modo são vítimas, noutro aspecto têm sua culpabilidade, pois não tiveram a capacidade de perceber sequer a dinâmica do conhecimento e a necessidade de se dedicar ainda que minimamente ao que a eles foi exigido como estudantes.
       Para onde ir? Talvez se tivesse tido aulas extras de mecânica poderia trabalhar nessa área e em seguida dar ou não prosseguimento nos estudos. Talvez se tivesse tido aula de culinária poderia agora abrir uma lanchonete e, dependendo, fazer um curso universitário quem sabe de nutrição ou de gastronomia? Talvez se tivesse tido uma preparação introdutória sobre corte e costura, ou sobre desenho, ou música, quem sabe não poderia agora prover sua subsistência?
            Mas há a possibilidade de fazer um vestibular e, enfim, se qualificar para entrar no mercado de trabalho. Para ser aprovado no vestibular é necessário certos conhecimentos, mas ainda assim, embora tenha cansado de ver estes conhecimentos na escola, não mais lembra, pois apenas se preocupou em decorar para alcançar nota e ser aprovado. Pode até ser aprovado, mas nem sempre com a segurança que quem conhece o básico de cada matéria vista durante os ciclos de ensino. Se for reprovado, a escola terá fracassado no ponto mais alto de sua objetivação, e fracassa, pois o número de reprovados é sempre muito alto.
Digamos que este estudante, após fazer um cursinho fora aprovado no vestibular, e precisa agora de mais quatro anos para concluir o ensino superior. Quem vai manter seus estudos? Se sua família tiver condições financeiras pode não ser um problema, mas, se não tiver e nosso desafortunado estudante desejar dar prosseguimento aos estudos e, enfim fazer um curso universitário, precisa quem sabe trabalhar numa lanchonete, num barzinho durante o dia ou numa loja como vendedor para pagar o curso que fará durante a noite. Além disso, o curso de direito ou de engenharia ficará apenas na ordem dos sonhos e dos objetivos nunca alcançados. Se fizer o curso durante a noite e trabalhar de dia, não terá tempo suficiente para estudar e mesmo com todo esforço pode não ter grandes rendimentos durante o curso.
            Resumindo, a escola não qualifica o aluno nem para o mercado de trabalho e assim se incluir e interferir na sociedade, nem para a aprovação num vestibular, cujo para o mesmo fora aprovado após fazer um cursinho durante quase um ano, pagando mensalidade e tudo. Cursinho é o mais perfeito exemplo de que a escola é um fracasso. A escola e o sistema educacional de uma forma geral.
            Assim surge o segundo fracasso: a escola. Com todos os seus atrativos e currículos bem elaborados não cumpre a necessidade de prover uma escolarização capaz de fazer com que ao concluir o ensino básico o aluno tenha um norte, um objetivo e o domínio de certos conteúdos necessários para se inserir no meio social.
Por isso, continuo insistindo que o sistema educacional brasileiro precisa ser revisto o mais rápido possível. Só mudando o sistema de ensino é que poderemos mudar essa realidade.