segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O QUE É A LINGUAGEM?

AUTOR: Leon Cardoso da Silva


(Aqui pretendo analisar o conceito de linguagem e proponho o desenvolvimento de uma linguística que pode muito facilmente ser denominada de "linguística transcendental")


            Dúvidas não há que adquirimos a lingua(gem). Ela não parece ser meramente um arcabouço de estruturas diversas cognitivas ou inatas. É, antes, um meio complexo e diverso que utilizamos para estabelecermos a comunicação entre as pessoas dotadas de faculdades linguísticas, sem a qual viveríamos um caos incontrolável. Restritamente, isto quer dizer que nosso pensamento só pode ser analisado pura e simplesmente em termos linguísticos, isto é, em termos de linguagem. Não quero com isso dizer que superamos, definitivamente, filosofias como as de Descartes e Hume que buscavam na intimidade vivencial a “verdade das ideias”. A ciência parece ter dominado o campo da epistemologia clássica e a metafísica foi jogada para um lado, posta a deriva embora frequentemente recorrente por estudiosos de diversos campos de estudo. Acontece que a linguagem – no sentido mais amplo do termo – é o meio que principia todo o pensamento. Isto quer dizer que o ser dotado de linguagem só se torna possível no mundo pela afirmação de si próprio e do outro. Um estar-no-mundo baseado pura e simplesmente na linguagem, sem a qual não haveria a organização do pensamento.
            Assim, viemos ao mundo dotados de certas estruturas racionais. Isso não quer dizer que estas estruturas bastam para compreendermos toda a complexidade do sujeito. Precisamos de conteúdos para ativar estas estruturas, sem os quais não poderíamos compreender este processo.
            Nesse sentido, a experiência da imagem é anterior a experiência da palavra, e esta é anterior ao pensamento. Viemos ao mundo com faculdades sensoriais que nos permitem ver o sol, ouvir sons, sentir uma brisa, o cheiro do mar, o gosto, a cor, a dimensão... “A imagem é um modo da presença que tende a supri o contacto direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. O ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e essa aparência”. (BOSI, 1977).
            Há uma relação entre a realidade das coisas e a forma com que nos comportamos diante delas. Nisso se opera uma relação de completude, pois com nossa percepção sensorial adquirimos conteúdos, com nossa estrutura mental o organizamos, sem esta organização não poderíamos chegar ao conhecimento. Completude no sentido de que o sujeito necessita de certos elementos sensíveis e abstratos, sem os quais não compreenderia a si próprio, nem o mundo no qual está inserido.
            Duas características, portanto, parecem inerentes ao ser humano: uma puramente pensada – racional. Outra simplesmente sentida – sensorial. É pela linguagem que estas duas tornam-se possibilidades inerentes e primordiais.
            Assim, é inevitável utilizarmos elementos racionais e empíricos em nosso processo de comunicação. Neste sentido, torna-se necessário a análise de enunciados que apresentam elementos destes dois campos de estudo. Este é o principal objetivo deste ensaio, realizar uma síntese entre nossa razão e nossa experiência – ou percepção sensorial – trazendo diversos elementos de teorias linguísticas.
            Parece que a linguagem é matéria primordial do pensamento. Sem ela não haveria a organização de uma sociedade. Estou me referindo especificamente à linguagem verbal, visto que o conceito de linguagem vai além do elemento verbal no sentido de haver uma linguagem não verbal que também pode facilmente transmitir algum tipo de informação entre os falantes ou aqueles dotados de uma estrutura mental que possibilite o entendimento. Neste sentido, a linguagem – no sentido mais amplo do termo – remete, por conseguinte, a uma realidade material.
            Ainda que se admita a existência de uma linguagem não verbal, ainda assim não poderíamos tirar dela o elemento racional, sem o qual não seria possível estabelecermos o processo comunicativo. Ao fazermos o gesto de balançar negativamente – ou afirmativamente – a cabeça precisaríamos compreender que nele, no gesto, está implícito o elemento empírico, mas também uma estrutura racional sem a qual não seria possível nos compreendermos, nem estabelecermos a existência de todo um processo de comunicação.
            Nestes termos, linguística transcendental seria a realização da síntese entre duas faculdades inerentes ao ser humano: a faculdade racional que o permite ter certas estruturas mentais, e a faculdade das impressões sensíveis que o permite adquirir certos conteúdos. Tudo isso no que se refere à análise e exposição linguística. Se por um lado dispomos de termos lexicais que se referem apenas a elementos que só podem ser compreendidos por um processo ontológico ou cognitivo, por outro, também dispomos – na sua maioria – de termos lexicais oriundos de nossas impressões sensíveis. Portanto, enunciados que apresentam o cruzamento de elementos destas duas grandezas devem ser submetidos a uma análise mais precisa.

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