Entrevista
com o poeta e escritor Leon Cardoso realizada pelo
jornalista Evan do Carmo para o jornal Correio Brasília e para o jornal Anexo 6
LINKS DA ENTREVISTA:
http://correiobrasilia.webnode.com/news/entrevista-com-o-poeta-e-escritor-leon-cardoso/
E
http://anexo6.com.br/2016/02/04/a-vida-de-um-professor-poeta/
LINKS DA ENTREVISTA:
http://correiobrasilia.webnode.com/news/entrevista-com-o-poeta-e-escritor-leon-cardoso/
E
http://anexo6.com.br/2016/02/04/a-vida-de-um-professor-poeta/
BIOGRAFIA
Leon
Cardoso da Silva é professor, escritor, pesquisador, poeta e músico. É natural
da cidade de Jacobina, interior da Bahia. Possui graduação em Letras Vernáculas
pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Junto a esta universidade
desenvolveu o trabalho de pesquisa “Literatura Popular: da historiografia
literária ao ensino em escolas da roça” vinculado à FAPESB e ao programa de
pós-graduação desta mesma universidade. Escreveu seus primeiros versos em 2003
e, mas só publicou seu primeiro livro em 2012, intitulado “À
margem do impossível” (poemas). Tem diversos textos publicados em periódicos
como também em sites especializados em literatura. É autor dos livros: “Ensaios
literários e filosóficos” (ensaios), “O Solitário Mário” (romance), “Literatura
de Cordel: uma questão da historiografia literária brasileira” (crítica
literária). “A máquina do mundo” (contos), Barco a vela, Etnografia do
instante, À procura da poesia, Chuva de pedra, Poemas ásperos, Monólogos (todos
de poemas), entre outros.
Como você descreve a poesia? Ela
está acima de todas as outras artes, ou é ela a única arte que se exprime de
tantas outras formas?
L.C: Descrever o que seja poesia é tarefa das mais fáceis
e ao mesmo tempo das mais difíceis. Isso porque comumente não se fazem uma
separação entre poesia e poema. Nas universidades, sobretudo nos cursos de
letras, isso já foi bastante discutido e tenho uma grande tendência em pensar
na mesma perspectiva do teórico Octavio Paz. Para mim, poesia é um estado
poético e poema é a materialização deste estado. Em outras palavras, poesia é a
sensação de beleza, de nostalgia, de contemplação, etc. Enquanto que poema é o
texto escrito tendo como ponto de partida diversos estímulos proporcionados por
esse estado poético. Nesse sentido, a poesia pode estar presente na música, no
romance, nos discursos e na natureza de uma forma geral porque ela é a mais
intensa das manifestações de beleza estética. Como poesia não é uma arte, visto
que ela seja antes um estado de contemplação estética e não uma manifestação
artística, ela não pode estar acima de alguma arte específica. Eu diria que a
poesia é o fim último de qualquer arte e nesse sentido ela é superior a todas
elas.
É possível conciliar a criatividade
poética, que tanto depende de silêncio com o teu ofício de professor?
L.C: Como
dizia o grande Fernando Pessoa: "ser poeta não é uma ambição minha. É a
minha maneira de estar só". Penso que toda criação literária precisa de
silêncio. Ainda que saiamos pelas ruas, como Charles Baudelaire fazia, para
buscarmos “inspiração” para a escrita precisaríamos ainda assim do recolhimento
para a produção escrita. O ofício de professor é também algo que se dá entre o
silêncio e o barulho (risos). Talvez minha criatividade
poética seja proporcional ao nível de silêncio que preciso para a produção
escrita, mas isso não é uma obrigatoriedade para esta produção.
Em tuas pesquisas, talvez tenhas base
para indicar o que é boa literatura brasileira. Pode nos dizer se descobriu
algum escritor contemporâneo com potencial de se tornar um grande clássico como
Machado de Assis?
L.C: O limite entre boa e má literatura é muito tênue.
Muitas vezes depende de como entendemos o que seja a literatura. Anteriormente
eu havia me referido ao fato de que poesia seja um estado poético e poema seja
a materialização desse estado. Isso não quer dizer, entretanto, que todo e
qualquer poema seja repleto de beleza e de estímulos poéticos. Isso significa
que pode haver um poema sem poesia. É a morte do poema. Um texto literário que
não consiga transmitir certos estímulos de contemplação e satisfação poética,
isto é, que não nos toque a sensibilidade a ponto de sentirmos sensações como
as do belo e do sublime, esse texto poderá ser enquadrado como uma literatura
inferior. Se analisarmos a literatura contemporânea veremos diversos textos que
não conseguem alcançar seus objetivos e perdem-se na perspectiva do próprio
ator. Até me atrevo a dizer que nunca se descobriram tantos escritores como em
nossa atualidade. Isso porque a internet proporciona essa expansão e exposição
de textos literários diversos e atuais. Acontece que divulgação não implica em
qualidade estética. Por isso, não acredito que em nossa contemporaneidade
exista algum escritor com potencial para se aproximar de Machado de Assis que
foi o maior escritor da literatura brasileira.
Morando no nordeste brasileiro,
lugar de dificuldades econômicas, como consegues divulgar e vender os teus
livros?
L.C: Exatamente, o nordeste, sobretudo o sertão
nordestino, apresenta sérias dificuldades econômicas. No meu caso, essa
dificuldade se dissipa, em partes, porque a internet proporciona chegarmos
longe, no que ser refere à divulgação literária. Além disso, há a possibilidade
do autor mesmo vender seus livros nas ruas. Foi isso que fiz ao publicar meu
primeiro livro, os quais vendi mais de 40 exemplares em uma única semana. É
isso que nossos escritores cordelistas fazem.
Como professor, procuras
influenciar os teus alunos a se tornarem poetas e escritores? Como fazes? E eles
têm reagido?
L.C: Sempre procurei influenciar meus alunos não só a se
interessarem pela literatura, mas também em produzirem seus próprios textos.
Mas confesso que não é tarefa das mais fáceis (risos). Até estou escrevendo um
livro sobre o fracasso do sistema educacional brasileiro onde faço uma reflexão
sobre isso. Este sistema educacional está repleto de tradicionalismos que não
estimula o aluno a pensar por si próprio, a querer interferir no mundo, a se
desapegarem do fácil e do conveniente. A maior parte dos alunos está interessada
apenas em adquirir notas para serem aprovados. Esta é a perspectiva que estão
acostumados e que suas famílias, as que se interessam pelo desenvolvimento
intelectual dos filhos, que é a menor parte, exigem. Mas estou remando contra a
corrente e tenho tido alguns resultados satisfatórios. Nas minhas atividades
procuro ser dinâmico e exploro os meios mais significativos para eles, como
leitura de textos na internet e livros impressos, levo meus próprios livros e,
com isso, eles percebem que também podem escrever.
Descreva para nossos leitores, com
o teu olhar apurado de poeta, de águia social, qual é a real situação do Brasil
político nesta região?
L.C: A região em que moro está localizada no oeste
baiano, mais precisamente no interior da Bahia a cerca de 250 quilômetros de Salvador
que é a capital desse estado. A situação política dessa região é marcada por
polaridades regionais, mas a presença mais forte é do estado e do governo
federal. As prefeituras não têm autonomias por que precisam dos aspectos
fiscais e econômicos. Isso faz com que o cenário político se desenhe com a
presença, sobretudo, dos deputados estaduais e federais. Quando a região elege,
por exemplo, um deputado federal ou estadual do próprio lugar geralmente este
consegue dar um destaque maior para a região, diferentemente dos que aparecem
buscando apenas alianças políticas. Portanto, nessa região o estado e o governo
federal só tornam-se presentes quando há a presença mais significativa dos deputados.
Qual deve ser o papel do
intelectual brasileiro, no teu ponto de vista, sobre as questões políticas
atuais?
L.C: O intelectual brasileiro tem a obrigação de
interferir em qualquer questão política da atualidade. Isso porque o
intelectual não pode estar alheio a realidade. Ele tem autonomia para pensar
por si próprio, ao passo que a maior parte das pessoas comuns infelizmente não
tem. Isso faz da intelectualidade um sacerdócio ou uma responsabilidade.
Indique para nós as tuas
referências literárias.
L.C: Sempre li muito. Com os livros descobri que não
preciso viver cinquenta anos para aprender determinadas coisas. O que muitos
aprendem em uma vida, certamente outros aprendem apenas com a leitura de um bom
livro. Portanto, a leitura foi uma das minhas mais importantes decisões. Por
isso, leio sobre diversas áreas diferentes. Com relação à literatura minhas
referências como escritores foram: Graciliano Ramos, Machado de Assis, Octávio
Paz, Manuel Bandeira, Victor Hugo, Cruz e Sousa, Castro Alves, Rubem Fonseca,
Mário Quintana, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, entre outros.
Indique também onde encontrar teus
livros
L.C: Meus livros podem ser encontrados no Clube de
Autores pelo site: www.clubedeautores.com.br ou através
do link https://www.clubedeautores.com.br/authors/10208
E
pelo blog: www.marbravio.blogspot.com
Mande-nos 3 poemas para publicarmos
junto à entrevista.
EPITÁFIO DE
POETA
Aqui jaz um poeta
Com sua métrica amada
Guardando consigo
Sua prosa versificada.
Aqui jaz um poeta
Com seu lamento
Metrificando engenhoso
O pensamento.
Aqui jaz um poeta
Com sua forma
Que morreu de enfarte
Pela arte.
Aqui jaz um poeta
Com seu canto
Que não saiu
De um pranto.
Aqui jaz um poeta
Com seus amores
Que não saiu
De suas dores.
Aqui jaz um poeta
Com sua parte
Com sua linguagem
Com sua arte.
Aqui jaz um poeta
Com seu suporte
Que bem versou
Até sobre a morte.
Aqui jaz um poeta
Bem adequado
Que honrou as gentes
De seu estado.
Aqui jaz um poeta
Comovido
Que decidiu
Ser atrevido.
Aqui jaz um poeta
Com sua lousa
Onde escrevia
Suas coisas.
Aqui jaz um poeta
Em sua dormida
Que bem soube
Viver a vida.
Aqui jaz um poeta
Eu asseguro
Que da poesia
Construiu um escudo.
Aqui jaz um poeta
Que se afeta
Com seu pensar
Como um asceta.
Aqui jaz um poeta
Com sua luz,
Mas não sabe
Do peso da cruz.
Aqui jaz um poeta
Que não definha
Se eternizando
Na entrelinha.
Aqui jaz um poeta
Sem covardia
Bem acomodado
Nesta moradia.
Aqui jaz um poeta
Acrobático
Pois se equilibrou num verso
Sistemático.
Aqui jaz um poeta
Não sei se ateu
Mas não era
Europeu.
Aqui jaz um poeta
Que abdica
Toda a fama
De uma vida.
Aqui jaz um poeta
Com sua idealização,
Mas ainda bate
Seu coração.
Poeta não morre
Apenas passa para um estado
Versificado.
PARA
AUGUSTO DOS ANJOS
Somos filhos do carbono e do amoníaco.
Interrogações hipocondríacas.
Somos sopros análogos a ânsias
Células nervosas, cardíacas.
Somos todos noctívagos errantes
Que ficam por trás de um cigarro
Quando a exata boca de “Deus”
Ensaia seu mais que divino escarro.
Somos todos forasteiros
Vivendo neste mundo como fera
Esperando o fim que tudo acera.
Somos todos de ruínas constituídos.
Vivemos insondáveis na espera
Sob “a influência má dos signos do
zodíaco”.
NÃO SEI
Para
Cecília Meireles
Não sei se fico
Não sei se passo,
Não sei qual a cadência
Deste compasso.
Não sei se a vida
É um rio raso,
Não sei se o tempo
Abarca o todo
Neste campanário.
Não sei se fico,
Não sei se passo,
Não sei se me construo
Ou me desfaço.
Não sei, não sei
E isso é tudo.
Só sei que um dia
Estarei mudo.
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