Autor: Leon Cardoso da Silva
(Fragmento de um livro em construção)
Quando o aluno conclui o ensino médio, ele sai sem um norte. Talvez com a ideia de ser médico, de ser engenheiro, de ser advogado, pois seu pai acha interessante e disse que pode dar um bom dinheiro. Ou até mesmo de ser astronauta, mesmo não tendo sequer uma aula sobre os planetas e as viagens espaciais. Ter um sonho não necessariamente significa ter um norte. Apenas um objetivo imaginado, pois quando o aluno, agora ex-aluno, vai para a realidade vê que a diferença social não o permite entrar numa faculdade de medicina, ou de veterinária, ou de engenharia, ou de direito, etc. Agora formado, com o ensino básico concluído o aluno pergunta-se: para onde ir? Trabalhar no quê? Agora de maior precisa prover sua existência. A sociedade exige o domínio de certos conhecimentos que não fora aprendido durante os 12 ou 13 anos que passou na escola. Mais uma vez pergunta-se: o que aprendi durante os estudos... tantas aulas, tantas atividades, provas, notas, faltas, presentes, atestados, espertezas, trapaças... para onde ir?
Na verdade, grosso modo, quando o aluno está em
qualquer dos ciclos de ensino ele é estudante, quando conclui o ensino básico
deixa de pertencer á classe dos estudantes para pertencer á classe dos
desempregados. Em certo modo são vítimas, noutro aspecto têm sua culpabilidade,
pois não tiveram a capacidade de perceber sequer a dinâmica do conhecimento e a
necessidade de se dedicar ainda que minimamente ao que a eles foi exigido como
estudantes.
Para onde ir? Talvez se tivesse tido
aulas extras de mecânica poderia trabalhar nessa área e em seguida dar ou não
prosseguimento nos estudos. Talvez se tivesse tido aula de culinária poderia
agora abrir uma lanchonete e, dependendo, fazer um curso universitário quem
sabe de nutrição ou de gastronomia? Talvez se tivesse tido uma preparação
introdutória sobre corte e costura, ou sobre desenho, ou música, quem sabe não
poderia agora prover sua subsistência?
Mas há a possibilidade de fazer um
vestibular e, enfim, se qualificar para entrar no mercado de trabalho. Para ser
aprovado no vestibular é necessário certos conhecimentos, mas ainda assim,
embora tenha cansado de ver estes conhecimentos na escola, não mais lembra,
pois apenas se preocupou em decorar para alcançar nota e ser aprovado. Pode até
ser aprovado, mas nem sempre com a segurança que quem conhece o básico de cada
matéria vista durante os ciclos de ensino. Se for reprovado, a escola terá
fracassado no ponto mais alto de sua objetivação, e fracassa, pois o número de
reprovados é sempre muito alto.
Digamos que este estudante, após fazer um cursinho
fora aprovado no vestibular, e precisa agora de mais quatro anos para concluir
o ensino superior. Quem vai manter seus estudos? Se sua família tiver condições
financeiras pode não ser um problema, mas, se não tiver e nosso desafortunado
estudante desejar dar prosseguimento aos estudos e, enfim fazer um curso
universitário, precisa quem sabe trabalhar numa lanchonete, num barzinho
durante o dia ou numa loja como vendedor para pagar o curso que fará durante a
noite. Além disso, o curso de direito ou de engenharia ficará apenas na ordem
dos sonhos e dos objetivos nunca alcançados. Se fizer o curso durante a noite e
trabalhar de dia, não terá tempo suficiente para estudar e mesmo com todo
esforço pode não ter grandes rendimentos durante o curso.
Resumindo, a escola não qualifica o
aluno nem para o mercado de trabalho e assim se incluir e interferir na
sociedade, nem para a aprovação num vestibular, cujo para o mesmo fora aprovado
após fazer um cursinho durante quase um ano, pagando mensalidade e tudo.
Cursinho é o mais perfeito exemplo de que a escola é um fracasso. A escola e o
sistema educacional de uma forma geral.
Assim surge o segundo fracasso: a
escola. Com todos os seus atrativos e currículos bem elaborados não cumpre a
necessidade de prover uma escolarização capaz de fazer com que ao concluir o
ensino básico o aluno tenha um norte, um objetivo e o domínio de certos
conteúdos necessários para se inserir no meio social.
Por isso, continuo insistindo que o sistema educacional
brasileiro precisa ser revisto o mais rápido possível. Só mudando o sistema de
ensino é que poderemos mudar essa realidade.
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